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Protestos violentos contra refugiados e requerentes de asilo aumentam

O relatório anual da organização Hope not Hate alerta para o facto de a atividade racista, xenófoba e anti-imigração ter vindo a aumentar para níveis preocupantes nos últimos anos. Segundo o jornal The Times, no último ano houve 253 protestos contra o alojamento de refugiados e requerentes de proteção internacional em hóteis, apenas no Reino Unido (R.U.). Recentemente, com o aumento do número de pessoas em necessidade de proteção internacional, com os efeitos da pandemia e com as múltiplas crises, nomeadamente na habitação, muitos grupos de extrema-direita têm organizado campanhas contra migrantes, refugiados e requerentes de asilo, com relatos especialmente na Europa, como no Reino Unido, na Escócia, na Irlanda e na Alemanha, mas também noutras partes do mundo como na Índia.


No Reino Unido, as concentrações podem juntar cerca de uma centena de afiliados e simpatizantes dos movimentos de direita radical, junto de alojamentos destinados a refugiados e requerentes de asilo. Os protestos são impulsionados pelo movimento Patriotic Alternative e podem durar várias semanas, atingindo altos níveis de violência como ataques incendiários, apedrejamentos, confrontos com a polícia e inúmeros ataques e ameaças. É usual a multidão permanecer em modo de vigília, gritando palavras de ordem, arremessando pedras e ameaçando quem se encontra dentro dos alojamentos, tendo as autoridades sido forçadas a estabelecer um confinamento e aumentado a segurança destas zonas. Também representantes políticos, pessoas que trabalham no acolhimento, ativistas e voluntários têm sido alvo de ataques e ameaças, tendo muitos visto as suas identificações e contactos serem partilhados em fóruns públicos online de grupos de extrema-direita.

Cordão de segurança escuda carrinha ateada por protestantes de extrema-direita, contra o alojamento de requerentes de asilo no hotel de Knowsley em Liverpool, no Reino Unido. Liverpool Echo.
Cordão de segurança escuda carrinha ateada por protestantes de extrema-direita, contra o alojamento de requerentes de asilo no hotel de Knowsley em Liverpool, no Reino Unido. Liverpool Echo.

Estes grupos de extrema-direita utilizam muito as redes sociais, para disseminar ideias falsas e desinformação e, assim, poder assustar as pessoas e capitalizar dos pânicos morais associados à diversidade cultural. Também colocam faixas com palavras de ordem pelas localidades, distribuem folhetos simplistas e visualmente impressionantes e anunciam os locais onde requerentes de asilo e refugiados estão alojados, para impulsionar mais protestos. Infiltram-se em audiências e assembleias municipais e locais incendiando o debate "Nós vs Outros" e espalhando mentiras e notícias falsas sobre refugiados e requerentes de asilo, fazendo crescer sentimentos de injustiça e ódio nas populações locais. Numa das audiências públicas, em Dunstable no R.U., foi possível perceber algumas das razões que impulsionam estes protestos contra refugiados e requerentes de asilo. Algumas das acusações prendem-se com: fazerem muitas marcações no dentista; ocuparem demasiado espaço no passeio; retirarem vagas nas formações gratuitas (que são exclusivamente para aprender inglês); ou de ser gasto dinheiro que poderia ir para licenças de televisão grátis para idosos.


O aumento deste tipo de concentrações, da intensificação da violência, da disrupção e do discurso de ódio preocupam as autoridades, que afirmam que a situação se tornou "extremamente assustadora". Na Irlanda, analistas e populações têm receio destes movimentos que, nos últimos meses, lançaram "um nível de retórica extremo e incitação à violência como nunca antes visto".

Para Sarah Khan - comissária para o combate ao extremismo do R.U. - estes grupos prosseguem com as suas atividades, radicalizando pessoas online e fomentando o ódio e a violência, com tanta impunidade, devido à falta de meios operacionais para os travar e combater. A ausência de um enquadramento legal para o extremismo de ódio é parte da razão para a falta desta infraestrutura operacional. Para Khan, o intensificar destas ideias tem por detrás as narrativas perpetuadas pelo próprio Governo e pelos meios de comunicação, que demonizam os migrantes e os refugiados, utilizando-os como bodes expiatórios culpados de males e crises, que são geralmente criadas pelos próprios Governos. Estas retóricas moldam a opinião pública e encorajam ao discurso de ódio e à violência contra estas pessoas, que apenas necessitam de um sítio seguro e em paz, para poderem tentar reconstruir as suas vidas. O efeito destas narrativas é extremamente disruptivo, levando à divisão das comunidades e da sociedade em geral, com altos níveis de violência e insegurança.


Não deixa de ser irónico que estas concentrações de extrema-direita contra refugiados e migrantes, cujo mote são as questões de segurança - particularmente para mulheres e crianças - e sobre tornar as "ruas mais seguras" acabam por resultar precisamente no oposto, tornando as ruas, as comunidades e as sociedades mais inseguras e violentas.

Irónico também, é o facto destas manifestações de ódio levarem muitas pessoas a conhecerem melhor a situação em que os refugiados e os requerentes de asilo vivem. Atingindo altos níveis de mobilização, seja através do apoio direto, de donativos ou da realização de manifestações de solidariedade, como resposta aos protestos xenófobos anti-migração. A última contou com uma participação de entre 20 mil e 50 mil pessoas que se juntaram, no passado dia 18 de fevereiro em Dublin, para defender os direitos de refugiados, requerentes de asilo e migrantes e demonstrar a sua solidariedade.

Manifestação de solidariedade com migrantes, refugiados e requerentes de asilo juntou entre 20 mil e 50 mil pessoas em Dublin, a 18 de fevereiro. PA Images.

A ComUnidade e o CPR permanecemos ao lado de todos aqueles e todas aquelas que estão pela humanidade, pela igualdade, pela decência e pelo respeito, repudiando qualquer acto racista, xenófobo, de ódio ou de violência.

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