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Vidas em risco pela guerra, violência e agora pelo fogo - mortes na Grécia evidenciam dura realidade

Mais um ano em que a Grécia sofre com a destruição dos fogos que assolam o país desde julho. A área queimada corresponde a mais de 77 mil hectares, tendo desalojado mais de 21 mil pessoas e causado a morte a pelo menos 25 pessoas, destas crê-se que cerca de 20 sejam migrantes que atravessavam as rotas irregulares pela floresta perto da fronteira grega com a Turquia.


No passado dia 21 foram encontrados 18 corpos queimados, abraçados em grupo, na região de Evros, no norte da Grécia. Foram identificados como sendo homens e dois deles meninos. Presume-se que o grupo tenha atravessado a fronteira recentemente e que estivesse a esconder-se na floresta com medo de serem presos ou enviados de volta para a Turquia. Atravessar rios, florestas e caminhos escondidos é a única maneira que as pessoas obrigadas a fugir dos seus países, por causa da guerra, da violência ou da perseguição feita por governos autoritários e grupos extremistas, têm para conseguirem chegar a um sítio com paz e segurança. O facto de não haverem rotas seguras e legais que permitam às pessoas nestes países fugirem para outros locais seguros, leva a que a única opção seja desafiar a sorte em longas travessias cheias de perigos. Seja por terra ou por mar, estes migrantes que só procuram proteção, encontram inúmeros desafios. Longas caminhadas sob um calor intenso, sem acesso a água ou comida e quase proibidos de descansar pelos traficantes; travessias marítimas de dias em embarcações deterioradas, sem quaisquer condições e sobrelotadas, onde a comida e a água acabam rapidamente, seguidas do combustível e do oxigénio. Homens, mulheres, crianças, idosos, grávidas e doentes, todos fazem estes percursos que podem ser fatais, pois sabem que se ficarem nos seus países o resultado não será melhor.


Além de vítimas da violência dos seus próprios Governos ou de grupos extremistas, da dureza das travessias e da intimidação dos traficantes, para a Amnistia Internacional, estes migrantes são também vítimas "da falta de acesso a vias legais e seguras, das políticas migratórias baseadas na exclusão racial e na dissuasão mortífera, incluindo a violência fronteiriça racista". As políticas anti-migração dos Governos alimentam a retórica racista de forma intensa, levando a um aumento da violência, da discriminação e de crimes de ódio cometidos por facções ultra-nacionalistas e de extrema-direita.

A situação de emergência dos incêndios na Grécia, levou ao crescimento de uma narrativa que culpabiliza migrantes e refugiados pelos fogos. Três homens foram detidos depois de raptarem e emprisionarem um grupo de migrantes numa carrinha, incitando outros a fazerem o mesmo.

Esta galvanização de teorias de conspiração é extremamente perigosa e tem-se tornado uma técnica comum para estes grupos de extrema-direita. Esta manipulação faz das vítimas os próprios culpados pela sua situação e pelas suas mortes, colocando ênfase na lógica do migrante como criminoso.


Enquanto migrantes são culpados por fenómenos repetidos todos os anos, centenas são encurralados pelos fogos que assolam a região. A organização de resgate Alarm Phone recebeu centenas de pedidos de socorro de pessoas presas, tendo perdido contacto com vários grupos, sem qualquer resposta por parte das autoridades gregas. A organização expõe o exemplo do fogo de Rhodes no mês passado, em que ninguém acusou migrantes de atearem o fogo e que todos os turistas foram prontamente evacuados e salvos, em grande contraste com o silêncio e inércia vistos agora.


O foco grego na migração tem um custo para o país e para a sua população, com o Governo a gastar dezenas de milhões de Euros em alta tecnologia de vigilância de fronteiras, agredindo, roubando e expulsando ilegalmente milhares de requerentes de asilo, sem qualquer responsabilização, ao mesmo tempo que não houve qualquer investimento para a prevenção dos incêndios, que destroem e têm vindo a destruir a terra, as casas e o sustento dos gregos todos os verões.


Moradores vêem fogo deflagrar na floresta de Sikorahi, no norte da Grécia. 23 agosto 2023. AFP Photos.

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